quarta-feira, setembro 09, 2009

Comunico que...

... agora escrevo em novo endereço. Atualizem os links, por favor:
http://canseidelero-lero.blogspot.com/

domingo, julho 26, 2009

Acabou, boa sorte

Eu aprendi - e não foi nada rápido, lá se vão 25 anos - que a certa altura da vida a gente deve terminar as coisas de maneira decente. E que dar tchau reconhecendo a parte boa do que foi vivido nos livra do peso e do gosto amargo do que um dia os outros podem chamar, equivocadamente, de ingratidão. Porque o silêncio às vezes é interpretado como ingratidão. O meu silêncio muitas vezes é.

O “Divagações e Paranóias”, cujo primeiro post, por sinal muito medíocre, data de junho de 2005, me acompanhou desde a metade da faculdade. Relendo as bobagens que escrevi, consigo rever um pouco da minha história. Em alguns momentos, rolaram sacadas legais, e com o que de bom publiquei acabei ganhando a simpatia de colegas que tinham dificuldade em decifrar o meu silêncio, me aproximei de potenciais amigos, angariei pretendentes involuntariamente, gargalhei e bufei com as interpretações mais mirabolantes a respeito de textos despretensiosos. É por tudo isso que valeu a pena.

Despeço-me com o sentimento confortante de que foi bom enquanto durou. E com a mais pura certeza de que, aos 25 anos, este espaço pós-adolescente não me serve mais. É preciso terminar uma fase para conseguir começar outra, já escreveram os mestres da autoajuda. E eu prefiro acreditar que, sim, esse é o caminho. O que quer dizer, meus amigos, que em breve a Cruz estará de volta, num espaço minimamente renovado. Como bem cantou o grande Belchior: “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

Tchau, gente.
Obrigada pela companhia.
Nos vemos!
Um beijo.

domingo, junho 14, 2009

O Cerrado em mim

A poucos dias de completar 25 anos, um quarto de século de história, é difícil entender como a vida virou do avesso em tão pouco tempo. Mudei de emprego, de cidade, de casa. Me mandei com uma mala preta grande, uma mochila de acampamento, um quilo de erva mate, florais e uma penca de medos. Ficaram para trás um apartamento, casacos de inverno que ainda não haviam sido usados, violetas, uma chaleira azul, livros, discos, cds, suvenires bregas que coloriam a estante, álbuns de fotos, uma coleção de TRIPs e TPMs. E pessoas queridas. Muitas. Na Capital Federal, onde durmo, acordo, levanto, trabalho, reclamo, como, bebo e me divirto atualmente, a vida ora tem mais graça, ora menos. E eu me esforço para deixar de lado as comparações. Aqui, tempo seco. Sempre. Céu azul. Quase sempre. Sol de rachar. Todos os dias. Comida nordestina. Me aventuro. Prédios públicos. Transporte deficitário. Gente querendo fazer amizade com o primeiro que aparecer na frente, querendo preencher o vazio, sem muitos critérios. E eu caminhando pela rua meio tonta, emplastada em protetor solar, sem saber como estará a vida amanhã, sem rumo certo. Queria escrever mais sobre as minhas observações, mas o estranho se torna familiar aos meus olhos com uma rapidez tão grande que os detalhes já não são mais detalhes em um curto espaço de tempo e se eu paro para escrever as palavras saem correndo, escapam. Talvez isso seja facilidade de adaptação. Talvez seja vontade de não sentir falta. Talvez seja preguiça mesmo. Eu não sei. Realmente não sei. Só sei que daqui a pouco terei 25 anos, um quarto de século de história, e, para uma pessoa com esta idade, a vida até que não anda mal. Tô no caminho. Tô na estrada. Para sofrer com a parte difícil, alimentar o coração com a parte boa e, no intervalo entre um acontecimento e outro, encher a mala de sonhos. E a cara de cerveja. Eu só quero que as pessoas queridas não fiquem congeladas em fotos, lá atrás.

sábado, junho 13, 2009

Reflexões pós-diadozedejunho

Textos publicados na TPM nunca tinham me feito chorar. Diante do ineditismo (e de uma vontade inexplicável de compartilhar o que senti), achei que deveria reproduzir aqui as palavras da Lilly Lacome, na edição deste mês. Na verdade, eu gostaria de ter escrito isso:

Quero acordar do seu lado num domingo de manhã e saber que não temos hora para sair da cama. E, depois, ir tomar café na padaria e ler o jornal com você. Quero ouvir você me contando sobre o trabalho e falar detalhadamente de pessoas que eu não conheço nem vou conhecer como se fossem meus velhos amigos. Quero ver você me olhar entre um gole de café e outro, sem nada para dizer, e apenas sorrir antes de voltar a folhear o caderno de cultura.

Quero a sua mão no meu cabelo, dentro do carro, no caminho do seu apartamento. Quero deitar no sofá e ver você cuidar das plantas, escolher a playlist no iPod e dobrar, daquele seu jeito metódico e perfeccionista, as roupas esquecidas em cima da cama. E que, sem mais nem menos, você desista da arrumação, me jogue sobre a bagunça e me beije e me abrace como nunca fez antes com outra pessoa. E que pergunte se eu quero ver um DVD mais tarde.

Quero tomar uma taça de vinho no fim do dia e deitar do seu lado na rede, olhando a Lua e ouvindo você me contar histórias do passado. Quero escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, mesmo sabendo que eu provavelmente não estarei lá.

Quero que você ignore a improbabilidade da nossa jornada e fale da casa que teremos no campo. Quero que você a descreva em detalhes, que fale do jardim que construiremos e dos cachorros que compraremos. E que faça tudo isso enquanto passa a mão nas minhas costas e me beija o rosto.

Quero que você nunca perca de vista a música da sua existência e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, mas a viagem. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na cama e pelos sonhos que compartilhamos enquanto olhávamos a Lua. Que você acredite que não me deve nada simplesmente porque os AMORES mais puros não entendem dívida nem mágoas nem arrependimento. Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo que vivemos.

Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida.

Que você nunca mais deixe de pensar em mim quando for a Londres, escutar “Dream ‘Bout me” ou ler Nick Hornby. E, por fim, que você continue a dançar na sala. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando.

quinta-feira, junho 04, 2009

Na velocidade da luz


Dezoito dias na Brasília e nenhum post. É viver ou sentar para escrever. E eu tenho ficado com a primeira opção. Prometo posts decentes na seqüência, quando deixar de viver três dias dentro de um.

terça-feira, maio 05, 2009

Analfabetismo

O povo tem uma idéia ingênua de que jornalista entende de português, é bem informado, sabe muito sobre assuntos diversos. Só que isso não corresponde à realidade dos fatos. As frases mais absurdas que eu ouvi até hoje na vida foram proferidas dentro da redação de um jornal. Por profissionais formados, diplomados. Gente que, supostamente, sabe escrever, lê bastante, interpreta. Tudo bem que os cursos de jornalismo são fracos. Tudo bem que às vezes a gente trabalha tanto que o cérebro pára de funcionar. Mas para certos casos não há desculpa.
A seguir, perguntas surgidas no ambiente de trabalho que eu gostaria de ter sonhado que ouvi:

- A Mangueira desfila no Rio ou em São Paulo?

- Suíça é um estado?

- Case... o que é case?

- “A Bush” leva crase?

- Trinidad Tobago é a capital da Venezuela?

E ainda:

- Tu tem que dizer na tua matéria que o Clodovil, além de deputado, foi estilista.
- Foi? Ah, mas eu não sei nada sobre isso.

Medo. Muito medo.

quarta-feira, abril 15, 2009

Sabe quem perguntou por você? Dizaí!



Ontem uma amiga me ligou e, no meio de tanto assunto para atualizar, ela veio com essa:
- Débora, sabe quem perguntou por ti?
- Hum?
- O Fulano!!!!
- Hein?
- Sim!!!! Foi numa festa. Esqueci de te contar!!!! Ele que disse que faria qualquer coisa pra estar contigo hoje.
- Sério? Ele enlouqueceu?
- Não. Te juro. Ele falava “Porque aquela mulher...”.

Bem, estas palavras proferidas por ele ao vento, no embalo de algumas cervejas, sem responsabilidade, sem grandes reflexões sobre a veracidade e a importância delas, teriam feito o meu coração pular do peito há exatos dez anos. Não agora. A verdade é que o Fulano, meus amigos, balançou a minha vida durante a adolescência.

Foi naquela época em que os romances sempre fracassavam e as paixões platônicas ainda existiam. Ou o cara já tinha namorada, ou não tinha e passava a ter do dia pra noite, ou o rapaz morava longe, ou uma amiga tua se apaixonava antes. E o caso empacava, não ia pra frente, mas sempre na promessa de um dia o rolo emplacar. Teve apenas um namorinho meu que foi adiante nesses tempos, mas aí, com as coisas dando certo, eu achei que não tinha muita graça e terminei. Hoje o cara é um jovem empresário de sucesso que aparece na coluna social. Tá, fui moscona.

***

No caso do Fulano... não que ele fosse bonito, porque não era, mas um cara charmoso numa cidade pequena já faz um certo estrago. E digamos que ele aproveitava o fato de ter muita mulher dando sopa. Enquanto isso, eu idealizava o nosso namoro –- que nunca aconteceu –-, escolhia o nome dos filhos que teríamos e já sabia qual seria o nosso destino na lua-de-mel, a igreja em que casaríamos, os padrinhos, enfim. Acontece que o Fulano não era muito chegado em relacionamentos sérios. Então a gente acabou tendo uma história bem superficial, da qual restaram algumas fotos e um cd da extinta banda Penélope, com o qual ele me presenteou quando completei 16 anos. Naquele mesmo ano, lembro de ter comprado um cd do Doors para o Fulano. Ele gostava muito da música “People are strange”. E eu acabei aprendendo a gostar. Só que um dia me cansei e fui namorar outro. Ainda bem.

***

Agora, logo agora, como na música da Adriana Calcanhotto, o Fulano anda perguntando por mim. Agora que eu aposentei o cd da Penélope. Agora que eu seleciono bem mais as minhas paixões. Agora que eu não toleraria um homem de 30 anos que usa bermuda de surfista e tem gírias juvenis. Agora que eu sei que casar não é tão bonito assim. O tempo passou, meu bem. O nosso tempo passou. E embora tu tenha sido riscado do meu caderninho há mais de oito anos, Fulano, o que ficou da nossa história ainda rende post para este blog. E isso significa que, ao menos nas minhas lembranças, sempre vai ter um lugar pra ti.

- Amiga, diz pra ele que eu estou bem.

sexta-feira, abril 10, 2009

Uma vida sem ponto final

É o tipo da coisa que a gente não percebe aos 18 anos, mas aos 24 já consegue enxergar. Eu só "realizei" essa dificuldade quando, no primeiro ano da faculdade de jornalismo na Pucrs, segundo semestre, mas precisamente, o professor Jacques Wainberg me disse umas verdades ao final de uma prova. A disciplina era Introdução ao Jornalismo II. E ele jogou na minha cara algo que, no fundo, eu já sabia.

***

- Débora... tu escreveu tudo a lápis e agora está passando a limpo?
- Sim, professor. Mas não tem problema, é rápido.
- Mas tu sempre faz isso?
- Sim.
- Mas não pode. Agora tu estas na faculdade. Tem que escrever com caneta.
- Eu sei. Mas não consigo. Quando eu passo a caneta eu sempre mudo alguma palavra, descubro um erro que não tinha visto. Fica melhor.
- Isso é porque tu não quer fazer as coisas sem a chance de voltar atrás. Tem medo do definitivo. Tu precisa resolver isso.
- Pode ser.
- Tenta usar só caneta nas próximas provas.
- Sim.

***

As palavras do Jacques me fizeram entender um pouco a fobia que tenho de decisões que não poderão ser revertidas. Na vida, eu queria ter sempre a chance de passar a limpo, conferir, reler, mudar uma coisa que outra, ainda não era bem isso, falta um detalhe. Reescrever. Medo do definitivo mesmo, de não ter outra chance. Só que o tempo não espera, as pessoas não esperam. E aqui me encontro, já adulta, fugindo do ponto final.

segunda-feira, abril 06, 2009

Rosa

“Se tu não for no show do Roberto Carlos, tu nunca vai pegar a rosa.”

Meu pai, no churrasco de domingo, despejando frases de efeito para tentar me convencer de que é preciso fazer todos os concursos públicos que surgirem.

quinta-feira, março 26, 2009

A cracolândia da Luciana em Torres (e outros assuntos mais)

- Redação?
- Oi. Foi contigo que eu falei antes?
- Olha, imagino que não...
- Sobre a denúncia.
- É. Não foi comigo. O que seria?
- Eu tirei uma foto com o meu celular e quero mandar pra vocês. Quero fazer uma denúncia. Eu acabei de passar na frente do hospital aqui de Torres e tem lixo hospitalar ali na calçada. Um absurdo! Tem cateter, seringa, um monte de coisa. Aí tava escuro, não tinha luz pra tirar a foto, mas eu consegui uma lanterna emprestada com os bombeiros. Liguei pro 190, mas a Brigada disse que não pode fazer nada.
- Como é o teu nome?
- Luciana, de Torres.
- Tá... Luciana, será que tu poderia mandar a foto por e-mail, então?
- O problema é que eu não tenho cabo pra baixar, porque eu ganhei o celular numa promoção da Vivo, sabe? É da LG. Então eu teria que mandar a foto pro celular de alguém aí da redação, entendeu?
- Sei...
- Olha, eu quero fazer essa denúncia, mas os meus créditos vão acabar. Eu não posso ficar gastando.
- Ok, me passa o teu número que eu te ligo.

***

- Alô? Luciana?
- Oi!
- É da redação. Seguinte, não tem como tu mandar a foto por e-mail mesmo?
- Eu não tenho cabo.
- É... aí complica...
- Eu queria muito fazer essa denúncia. Porque é cada coisa que acontece aqui nessa cidade. Olha, nas eleições, o prefeito dava vale-gás pras pessoas pra conseguir voto. E nas carreatas dele só tinha carro com placa de outra cidade. Eu não sou daqui. Aliás, eu e o meu marido só vamos ficar mais um tempo. Mas tá horrível. E o crack? Olha, isso aqui tá a crackolândia! É por tudo essa droga. E se tu fala com a polícia eles dizem que não conseguem nem entrar lá na vila. A minha vizinha...
- Pois é, Luciana, eu te agradeço a ligação, mas...
- Eu amamentei o bebê da minha vizinha, porque ela é drogada, sabe. Tá tudo fora de controle nesta praia. Eles só investem em construção civil, sem licença ambientaaal, claro. É prédio novo pra lá e pra cá (e blábláblábláblá)...
- Sim, as coisas realmente não são fáceis. De qualquer forma, o nosso e-mail, caso tu consiga mandar a foto, é socorromeudeus@chega.com.br (bem que eu queria ter dito isso mesmo). Obrigada pela ligação, Luciana.
- Ah, de nada. Puxa, eu queria tanto fazer essa denúncia sobre o hospit...
- Eu sei. Valeu, então. Tchau.

terça-feira, março 10, 2009

Ajoelha, então

Essa história de Dia Internacional da Mulher rende mesmo. Um evento chamado "Ajoelhaço" reúne todo ano, em um bar da capital paulista, homens que pedem perdão às mulheres pelas "atrocidades cometidas". De joelhos, literalmente. Embora acredite que, hoje em dia, as moças não ficam atrás dos rapazes no quesito "crueldade com o sexo oposto", gostei disso.
Deve ser divertidíssimo.
Só podia ser em São Paulo. Só podia ser em boteco. E a idéia foi de um poeta.
Dá uma olhada aqui.

segunda-feira, março 09, 2009

Adriana, as novelas e eu

Acho que foram algumas novelas da Globo que fizeram eu me apaixonar pela voz da Adriana Calcanhotto. Talvez tudo tenha começado com a péssima "Renascer", em 1992. “Mentiras”, do disco “Senhas”, que estava na trilha da novela, foi uma das primeiras músicas que eu gravei em fita K7 para ouvir depois até gastar.
“Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família
(...)
Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem,
Que é pra ver se você olha,
Pra mim”

Parece estranho uma criança de 8 anos ouvir isso, mas eu lembro que, naquela época, a Adriana cantava até no Show da Xuxa. Então eu não era precoce. Olhava muita tevê mesmo.

****

Dois anos depois a Globo colocou no ar “Quatro por Quatro”, novela pela qual eu realmente era aficionada. Desta vez era “Metade”, do disco "A fábrica do poema" (1994), trilha sonora do casal Babalu e Raí, que me fazia companhia nos momentos de fossa (mas como uma criança de 10 anos tem “fossa” pra curtir, deusdocéu? não sei, mas foi assim)
“Eu perco o chão
eu não acho as palavras
eu ando tão triste
eu ando pela sala
eu perco a hora
eu chego no fim
eu deixo a porta aberta
eu não moro mais em mim

Eu perco as chaves de casa
eu perco o freio
estou em milhares de cacos
eu estou ao meio
onde será que você está
agora?”

****

O tempo foi passando e chegou uma fase em que eu gostava do que a Adriana cantava independentemente das trilhas sonoras de novela, embora as músicas dela, durante quase toda a década de 1990, tenham servido de fundo romântico para casais globais. Em 1998, com 14 anos, tempos em que eu ainda gravava as tais fitas K7, quase enlouqueci ouvindo “Vambora”, do cd “Marítimo”, e pensando em uma paixonite de verão que não sobreviveu nem ao outono. A música foi trilha da novela Torre de Babel (a Wikipédia que me disse, já que essa eu não assisti).
“Entre por essa porta agora
e diga que me adora
Você tem meia hora
pra mudar a minha vida

Vem, vambora
que o que você demora
é o que o tempo leva”

****

Mas foi o álbum "Público" (2000) que me fez pirar. Tinha 17 anos e comprei o cd com meu primeiro salário de estagiária, na Multisom da Rua da Praia, aquela perto do shopping. Só que aí tinha novela no meio de novo. Numa noite eu escutei “Devolva-me” em “Laços de Família” – a música era tema de um casal muito sem-gracinha. No outro dia eu estava na loja comprando o cd. Foi proveitoso porque, nesta fase, eu já tinha maturidade para ouvir com atenção todas as faixas.
“Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor
Meu bem

O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei
Mas se tiver
Devolva-me

Deixe-me sozinho
Porque assim
Eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz”

****

Do cd Cantada, de 2002, gosto de quase tudo. Music eu acho que vai longe demais. Justo Agora e Pelos Ares não consigo só ouvir. Sempre canto junto. No meu mp3, atualmente, só dá “Eu espero”.
“Não vá me deixar
sem seu beijo
Se tudo o que há
não é muito mais
do que o momento”

****

Prometi pra mim mesma que o “Adriana Partimpim” (2004), supostamente destinado ao público infantil e com o qual já presenteei duas crianças, constará na minha lista de compras da Saraiva (frete grátis, coisaetal) no mês que vem. O disco "Maré", de 2008, confesso que só ouvi umas duas vezes e ainda não bateu. No entanto, tem uma música que a Adriana vem cantando nos shows que merece destaque. É “Meu Mundo e Nada Mais”, do Guilherme Arantes, que foi tema da Glória Pires na novela “Anjo Mau”.

Dia desses a Adriana deu uma entrevista para a Globo News e contou sobre o piripaque aquele que ela teve em Portugal, quando tomou uns remédios para gripe e, devido a uma reação inesperada do organismo aos medicamentos, começou a ver gnomos. A única coisa que a acalmava era escrever. E foi o que ela fez.

Então nasceu o livro “Saga Luza” (que também está na lista de compras do mês que vem), no qual a cantora narra a tal experiência com as alucinações. Passado susto e com uma série de shows pela frente, ela só conseguia pensar na música do Guilherme Arantes, que foi incorporada ao espetáculo. Agora sou eu não consigo parar de pensar nesta música. E canto junto. E escuto de novo. Outra vez. E quase choro. Mais ou menos como quando eu tinha uns 10 anos.

domingo, março 08, 2009

Não é preciso entender

No Dia Internacional da Mulher, quero manifestar minha admiração pelos homens que não nos entendem, mas são absolutamente fascinados pela nossa complexidade. Um deles é o amado idolatrado salve-salve do mundo jornalístico Xico Sá, que até quando escreve sobre a classe masculina mostra que realmente saca o universo feminino. O texto que segue (de autoria dele) explica.

TEORIA DO CAFA

O cafajeste ou é um doce cafajeste, um cafajeste lírico, poético, romântico, decente... Ou é muito risível. Não há outra saída para este animal. Ou tem a manha ou torna-se caricato na primeira piscadela.

Ou é Paulo Cesar Pereio ou apenas um ensaio de Didi Mocó Sonrisal. Didi é gênio, ora, mas é macaco de outro galho. O cafajeste amador é uma piada. Quer traçar todas e a nenhuma se devota. Blefe. Não sabe, nem nunca procurou saber, que no amor e no sexo, não existe mensalão nem milagre.

O cafa poético não é nada óbvio. Sabe, inclusive, que nem só de gostosas vive o homem. É capaz de devotar-se àquela mulher que ninguém dá nada por ela. E de repente descobre que trata-se de um sexo sem precedentes, um vulcão nunca dantes despertado para as artes da alcova.

O cafa amador parece vestir-se sob encomenda de uma figurinista. Camisa aberta, corrente, falsa malandragem, cafuçu de araque, essas coisas. E sempre um pé no metrossexualismo ou na tendência. No cafa romântico qualquer peça lhe cai bem, pois a ciência da sua pegada está no olho e no drinque caubói, claro.

O doce cafajeste entra no saloon e não atira para todo lado. Não gasta balas à toa. Sempre escolhe um alvo. O caricato e amador gasta as balas do colt até com as mulheres dos amigos, embora não tenha arma para matar sequer uma formiga.
O falso cafa é só “garganta”. Transando ou não transando,diz que transou, e espalha a lenda urbana. Seu caminhãozinho não perde a viagem... Mas areia que é bom de verdade... O cafajeste romântico é discreto.

Acredita sobretudo, e caso a caso, na arte da conquista, na devoção pura e simples. Nem que seja por uma noite apenas e nada mais. Diante dele, toda mulher se sente uma deusa, uma Vênus. O canalha amador faz falsas promessas. O cafa romântico, predador evoluído, sabe que a fêmea moderna pode muito bem estar querendo _estarei gozando, como diria uma profissional gerúndica do telemarketing!!!_ apenas sexo.

O cafa caricato se acha. O doce cafa sabe que hoje está por cima e amanhã pode muito bem estar por baixo _mas que seja, pelo menos, de uma bela moça, claro.
No catecismo do cafa romântico, não há nojinhos nem proibições. O amador é asséptico e limpinho.

O cafa sexy, senhores, se pudesse, voltava para o útero por dentro da mulher mais linda da cidade, como na crônica do amor louco do velho safado Charles Bukowsky.
O amador se contenta, muitas vezes, com um sexozinho virtual no Messenger. Sem cheiros, sem odores, nada visceral. Ele ainda não sabe, como soprou aqui mil vezes o passarinho Kac, que para curar um amor platônico é preciso uma bela trepada homérica.

sexta-feira, março 06, 2009

Mulher moderna é o caralho

Uma semana tomando banho gelado. Uma gripe como consequência. Mais de R$ 300,00 gastos com o conserto do Junker. Caminhando para a falência. E eu achava que era bem mais fácil ter ninho-próprio.

*com o detalhe de que moro sozinha há quatro anos.

quinta-feira, março 05, 2009

"Topera"

Putz... colocaram câmera de vídeo no elevador do meu prédio e eu não sabia.
Vergonha.
:/

quarta-feira, março 04, 2009

Heineken

Será que me aceitariam no segundo grupo?

sábado, fevereiro 28, 2009

A crise dos (quase) 25 II

– Moça, vai uma bala? – perguntou o guri, que aparentava uns 10 anos.
Eu caminhava apressada para pegar o ônibus.
– Não, obrigada.
– Tu é linda, hein?!
“Quê isso, seu piá de merda?!”, pensei, mas não disse. O ônibus estava chegando. Depois, no trajeto, lembrei que crianças são sinceras. Então comecei a rir.

A crise dos (quase) 25 I

A escolha foi acertada. Última noite de Carnaval, na casa de Portugal, e até rima. Acho que eu era uma das cinco pessoas com menos de 30 no baile.

Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele é
Será que ele é
Será que ele é bossa nova
Será que ele ...


E a gente dançando pelo salão.

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ó meu bem não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração


E um coroa me tira pra dançar.

Se você fosse sincera
Ô ô ô ô, Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô, Aurora


Eu danço. Agradeço no final. Ele some. Ufa.

Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou...


Volto pra casa cansada e feliz. Pulei Carnaval com os amigos, os vovôs, as tias-gatas. Mas aí paro pra pensar: “Será que eu vou acabar como essas coroas, se produzindo e se perfumando para ir em baile na Casa de Portugal, tipo, aos 60 anos?”.

Débora, sua louca, tu ainda tem 24!

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Sobre os privilégios de trabalhar à noite

Sofá da sala na quarta-feira de cinzas, sorvete e pernas pra cima:

Estação Primeira de Mangueira: Déééixxx.
Unidos do Viradouro: Déééixxx.
Beija-Flor de Nilópolis: nove, ponto, nove.
Mocidade Independente de Padre Miguel: nove, ponto, ooito.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Tio bagaceiro? Eu tenho

Na terra da piada pronta, talvez esse seja o primeiro Carnaval em que eu não precisei ouvir trocentas vezes aquela piadinha infame que tanto me irritava na infância: “Hoje a Márcia* vai ver a Mangueira entrar”. “É hoje que a Mangueira entra?” “Ah, ela já viu a Mangueira entrar ontem.”
Rá. Rá. Rá.

* Márcia é um nome-coringa. Se usa em trote, em post de blog. Márcia serve pra tudo. Inclusive para proteger a reputação das tias.

Luma deveria ficar mais séria

Ver a Luma de Oliveira dando entrevista pra Globo antes de pisar na avenida me fez um pouco mal. Ela sorria o tempo inteiro, mas eu só conseguia prestar atenção nos pés de galinha que saltavam na tela.
O não-dá-mais-pra-disfarçar chega pra todos. É triste, mas consola.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Tá cada vez mais down o high society

Tenho vivido dias ecléticos, circulado em meios sociais muito diferentes em um curto espaço de tempo, o que, no mínimo, rende post para o blog. No fim de semana, alternei banho de sol em Santa Terezinha (que é uma praia tranqüila perto de Tramandaí) e Atlântida, com o detalhe de que o translado foi feito em ônibus pinga-pinga, com gente saindo pela janela e assentos disputados quase a tapa, o que é assunto para outro texto, por sinal.

Hoje comi sushi e risotos frescos – no sentido de coisa-metida-a-besta mesmo – na Padre Chagas. Almoço entre amigas. Papinhos do tipo: "Me conta, fulana, que tu anda fazendo? E o trabalho? E o namorado? E a praia? E a lipo?". Horas depois eu estava no Centro da cidade, mais especificamente no recém-inaugurado Camelódromo, por curiosidade e necessidade, já que tinha umas comprinhas a fazer. "Moça, quê procura? A gente tem tudo", gaba-se o vendedor, com uma lata de Kaiser na mão. Viva a informalidade!

No meu passeio pelo CPC, aprendi que existe um novo termo para produto-pirata: paralelo. Chique, não? “Moça, o original é R$ 40; o paralelo é R$ 20.” Comprar algo “paralelo” até que não parece ruim. “Me dá o original, pra garantir.”

Camelô é tipo shopping, a gente pisa lá e descobre que está precisando comprar milhares de coisas. A vantagem é que, no Centro Popular de Compras, os vendedores se esmeram para vender, se não têm o produto conseguem com o vizinho, sempre dão um jeito e os valores são beeeem mais em conta. Sobre a qualidade... bom, vamos pular essa parte.

Achei o prédio do camelódromo meio inacabado (ou feio mesmo), mas fiquei feliz em ver aquelas pessoas trabalhando com as mínimas condições que um ser humano merece, como teto, por exemplo. Peguei o ônibus e voltei pra casa pensando que, enquanto eles batalham o arroz com feijão de amanhã, o povo da Padre Chagas nem sabe quanto custa um litro de leite. E enquanto uma barriga roncava, eu torrei R$ 25 em um almoço no Riverside’s. Alimentei a engrenagem. Que merda.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Boa!


Na beira-mar de Atlântida Sul (Litoral Norte), um bom nome para bar.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Vicky Cristina

Tem dias que eu espremo o cérebro e não sai nada. Nadinha. O drama é grande porque eu sou jornalista e preciso trabalhar. Espremo de novo, espremo mais. E não brota nem uma legenda maisoumenos nem um título razoável muito menos um lead que faça o mínimo sentido. Dá vontade de ir lavar pratos em Barcelona.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

O pior release ever



PREFEITURA DE XXXXXXXXX
GABINETE DO PREFEITO
COMUNICAÇÃO SOCIAL
E-mail: imprensa@XXXXXX.rs.gov.br
Jornalista XXXXXX XX XXXXXX XXXXXX

FESTA DOS NAVEGANTES NA PRAIA XYZ

O prefeito de XXXXXXXXX, Fulado de Tal, sua esposa Maria de Tal, o vice-prefeito Beltrano de Tal e sua esposa Neusa de Tal, participaram no domingo (01) pela manhã da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes no Balneário XXXXXXXX, um evento considerado tradicional todos os anos e realizado pela comunidade religiosa da Paróquia que leva o nome da Santa.

Aconteceu uma procissão onde os fiéis levaram em um andor a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, da Capela pelas ruas do balneário até a beira mar, junto as ondas do oceano Atlântico, com orações e cantos religiosos.

Após a procissão, foi rezada uma missa na Capela pelo pároco, Padre XXXX, com a participação dos festeiros, Paulo e Maria, e coordenadora da Festa Senhora Edith, um destaque foi a grande participação de veranistas e moradores que acompanharam todo o festejo em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes.

p.s. dá pra acreditar?

quarta-feira, janeiro 28, 2009

As mães e a inocência

Terraço da Casa de Cultura Mario Quintana, no Centro de Porto Alegre, por volta das 16h30min de um domingo escaldante. Na companhia de minha mãe, comemoro a chegada dos pedidos feitos ao garçom:

eu
- Nossa! Eu tava louca por um chope!

ela
- Eu achei que tu ia querer sorvete.

Em nome do bom senso


Depois de ir a 1.327 formaturas, me sinto capaz de dar algumas instruções.

Convidadas:
Favor evitar decotes-sem-noção, roupas levemente transparentes e vestidos que deveriam ser usados na cerimônia de entrega do Oscar. Fica parecendo que a pessoa não sabe que está em uma universidade ou faculdade.

Formandos:
Para os que têm direito a fazer um pequeno discurso quando pegam o canudo, não é muito interessante começar a fala por: "Em primeiro lugar, eu quero agradecer a minha família...", pelo simples fato de que 85% dos formandos farão o mesmo. Favor evitar frases do tipo: “Agradeço o meu pai, que embora tenha todos os defeitos do mundo...”. É formatura e não lavação de roupa suja.

Oradores:
Peloamordedeus, chega dessa história de: "Quem poderá esquecer das festas na casa da Marcinha? E do mau humor do Gabriel a cada manhã? E quando todos foram mal na primeira prova do primeiro semestre da primeira disciplina de seiláoquê?". Ah, por favor, não citem a "pastelina do bar" como uma das maravilhas dos quatro anos vividos na faculdade.

Nas recepções:
Formandos e pais: Não sabem se têm capacidade para discursar? Não discursem. Será melhor para todos.
Convidados: Têm problemas com bebida liberada? Comam antes de beber sem medida. Nunca é demais lembrar. E comportem-se, principalmente se a sua presença é, de fato, relevante para o evento.

Nos bailes:
Para os homens: Não sabem dançar? Não tentem. Bebam. É isso que as mulheres esperam de vocês mesmo.
Para o DJ: Não é todo mundo aderiu à moda “tecno”. Tunti-tunti pode até tocar, mas não a noite inteira. O mesmo serve para funk e pagode. Hits pré-históricos como Whisky a Go-go não precisam ser lembrados.
Para as mulheres: Mesmo que você tenha bebido todas e não saiba mais em que planeta está, dançar o Créu como se ninguém estivesse vendo é constrangedor para todos. Não precisa.

Por último:
Aproveite tudo porque nenhum segundo vivido e sentido neste dia será vivenciado novamente. É uma vez e deu.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Gancho


Hoje, quando você ligar a televisão ou der uma olhada nos jornais, entre os assuntos principais estará a posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama. O cenário é a cidade planejada de Washington, D.C. Aproveitando o gancho da posse mais badalada de todos os tempos, falarei um pouco sobre a cidade – seus prós e contras – e mostrarei algumas das milhares de fotos que bati por lá.

*como escrevi algumas linhas sobre a minha “experiência internacional” e nunca publiquei, os meus dramas também farão parte do texto que segue



“Maior do mundo”

Se o objetivo é tirar uma foto em frente à Casa Branca, outra no Pentágono e a última no Capitólio, um dia em Washington, D.C. é suficiente. Mas se você procura mais que um retrato posado junto aos símbolos do poder norte-americano, precisará de, no mínimo, dez dias na capital dos EUA.



A cidade, que tem cerca de 570 mil habitantes, é linda, limpa, rica em opções culturais e cosmopolita. Foi planejada em 1870, pelo primeiro presidente norte-americano, George Washington, para abrigar a sede do governo.



A grandeza está nos prédios públicos, muitos deles em mármore branco, nas grandes avenidas, nos vários monumentos construídos em referência a grandes líderes da história do país. É sede do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Para os jornalistas e interessados, uma das grandes atrações é o complexo Watergate.



O que quase não se fala no Brasil é que a cidade tem um número elevado de moradores de rua, os quais, em sua maioria, vivem nas praças e se alimentam em McDonald’s e afins (mendigo fino). Além disso, Washington, D.C. tem um dos índices de homicídios mais altos do país. A região da Casa Branca, inclusive, é perigosa à noite. Parte considerável da população é proveniente de El Salvador – restaurantes salvadorenhos são vistos aos montes. Brasileiros? Quase não se encontra. É uma boa cidade para praticar o inglês. Ou o espanhol.



Há o que fazer?

Sim, e muito. Dezesseis museus gratuitos circundam o National Mall, uma espécie de praça, gramado ou parque. Todos integram o Smithsonian Institute, maior complexo de museus do mundo. O Mall, como é chamado, fica entre o Capitólio e o Monumento a George Washington, um obelisco que está entre as estruturas mais altas do mundo. Muita coisa nesta cidade se intitula “mais do mundo”. It’s the U.S.



Ao redor da praça estão o Holocaust Memorial Museum, National Air and Space Museum, National Gallery of Art, National Museum of Natural History, National Museum of American History, National Museum of African Art e mais uns tantos. Para quem gosta de museu, é programa para uma semana inteira. Além dos gratuitos, existem diversos outros, como o Spy Museum, que conta a história da espionagem, e o Newseum, o museu da notícia, inaugurado em 2008 e que aborda a história da imprensa de forma interativa e moderna.



Vá de táxi

Se os museus são de primeiro mundo, o mesmo não se pode falar do transporte público. O metrô, embora lindíssimo, limpo e mais barato que o de Nova York (quem anda dentro de Washington paga de US$ 1,35 a US$ 1,75), serve principalmente os pontos turísticos e cidades vizinhas dos Estados de Maryland e Virgínia.



Caso a sua programação fuja um pouco disso, terá de pegar ônibus. Esteja preparado para o chá de banco na parada, principalmente no fim de semana. Táxi acaba sendo uma boa opção, ainda mais à noite, já que a cidade tem fama de ser uma das mais violentas dos EUA e só pessoas sem juízo, como eu, se arriscam a encarar o bus às 2h da manhã, na companhia de passageiros mal-encarados.



Nightlife

A vida noturna se divide basicamente entre dois bairros, Adams Morgan e Georgetown. O primeiro, mais popular; o segundo, sofisticado. Por uma questão de afinidade (e também considerando o meu poder aquisitivo), circulei mais por Adams Morgan, que reúne bares e restaurantes étnicos. E adorei. Na primeira semana, fui sozinha ao Ghana Cafe, um bar africano. Tomei uma Heineken a US$ 5 (que dor no bolso), sentada junto ao balcão, ouvindo reggae (concessões que a gente faz quando viaja). Acabei ficando amiga do garçom, um ganense simpático. O problema de uma moça-que-viaja-sozinha-mas-tem-namorado é que só pessoas do sexo masculino se aproximam para conversar. E nunca querem só conversar. O garçom, por exemplo, após alguns minutos de papo sobre futebol e carnaval, começou a dar “beliscadas” na minha cintura quando, entre um pedido e outro, passava por mim. Neste momento, você constata: já bebeu, já treinou o inglês e é hora de picar a mula. Na próxima saída noturna, vai a outro bar.



New York é logo ali

Ir de Washington, D.C. a Nova York é uma barbada. A passagem de ônibus é barata (cerca de US$ 40 ida e volta) e a viagem dura aproximadamente quatro horas. Fui em uma sexta-feira e voltei no domingo, sozinha. É impossível conhecer a cidade em tão pouco tempo, mas dá para garantir uma ida ao Central Park, uma caminhada pela Times Square, uma voltinha noturna no Greenwich Village.



E para quando bater o tédio de estar viajando sozinha, o negócio é “se perder”. Andar e andar.



Foi assim, perdida depois de caminhar quilômetros, que eu dei de cara com uma Oktoberfest animadíssima no Central Park. Sem ingresso, entrei de penetra. E não me arrependo. A festa com os alemães está entre as melhores recordações que guardo da viagem.



Ônibus DC-NY:

Ao menos três empresas diferentes fazem o serviço. Reserve (principalmente se pretende viajar no fim de semana, já que muitas pessoas terão a mesma idéia).

*Washington Deluxe Bus
http://www.washny.com

*Dragon Deluxe
http://www.dragondeluxe.com

*Go to Bus
http://www.gotobus.com/washingtondc

Onde sair:

*Bateu o banzo? O Bossa oferece brazilian music às terças-feiras, com show do grupo Clube do Samba, e não cobra ingresso. No fim de semana, ritmos latinos.

Bossa Bistro & Lounge
18th Street, 2463, NW, Washington, DC
www.bossaproject.com


*Começou a pensar que seria melhor ter ido para a África? Ghana Café, no bairro boêmio Adams Morgan, resolve. Os shows de reggae no fim de semana reúnem gente de Ghana, Gabão, Costa do Marfim etc. Oferece comida e bebidas africanas.

Ghana Cafe
18th Street, 2465, NW, Washington, DC
www.ghanacafe.com


*Restaurante e bar latino-americano Rumba Café: há shows de salsa, tango e às vezes rola música brasileira. Caipirinhas e mojitos fazem parte do cardápio. Não cobra ingresso.

Rumba Café
18th Street, NW, 2443, Washington, DC
www.rumbacafe.com


*Música americana e bandas alternativas? O Black Cat conta com shows de bandas independentes de pop e indie rock. O preço varia de acordo com a atração. É bacana.

Black Cat
14th Street, 1811, NW, Washington, DC
www.blackcatdc.com


Onde comer:
No momento em que enjoar de fast food e o desespero bater, vá ao Vapiano, onde se encontra massa bolonhesa, carbonara, etc, pagando cerca de US$ 9,00. O prato é reforçado.



Vapiano (comida italiana – e boa – a preços aceitáveis)
18th Street próximo à M Street, NW, Washington, D.C.
www.vapianointernational.com


Impressões

Com a desculpa de aprimorar o inglês, embarquei no início de setembro para Washington, D.C. O plano incluía um mês de aulas do idioma na capital dos Estados Unidos (com a missão de aproveitar ao máximo a cidade), mais uma ida de fim de semana a Nova York. As economias de toda uma vida foram aplicadas no projeto – veja bem, não é fácil passar um mês brincando de estudante no antro do capitalismo com o salário que recebem os jornalistas do Brasil. Foram 28 dias de contato com uma cultura nova e nem sempre receptiva. No entanto, a aventura compensa. Ao fim da viagem, acabei deixando um pouquinho de mim em D.C. Ficaram por lá uma penca de medos. Voltei mais corajosa, menos etnocêntrica e louca para planejar a próxima viagem.



The book is on the table

As primeiras tentativas de comunicação em solo estadunidense foram traumáticas. A sensação era de que eu estava na China. Meu inglês “tabajara”, adquirido em cursinhos nada baratos feitos durante a adolescência, não deu conta do recado. E os nomes de tudo em inglês? E quem disse que eu lembrava que chinelo é flip-flop?



Samba? Carnaval? Futebol?

Casa de família. Sim, eu tive coragem de fazer esta opção. E graças a Deus o meu quarto era imenso e distante do resto da casa, o café da manhã era farto e incluía granola, a residência, bem localizada.





Melhor ainda é que não existia uma “família”, apenas a dona da casa, uma ex-professora universitária e atual empresária de 50 e poucos anos, e outra hóspede, Carolina, 26 anos, advogada, colombiana e gente fina.

Ainda no Brasil, havia preparado na minha cabeça, in English, uma espécie de palestra sobre o Brasil: Carnaval, samba, futebol. Ia dizer que a coisa não é bem assim, que as brasileiras não passam o ano rebolando, etc. e tal. Para minha surpresa, a dona da casa não perguntou nada. Nem como foi o vôo. De cara me apresentou os eletrodomésticos malucos da cozinha, me deu aulas sobre como ligar e desligar o alarme cada vez que eu saísse ou entrasse em casa. Eu entendi 60% das explicações. Pânico.

A primeira semana foi o caos. Casa estranha, cidade estranha, pessoas estranhas,comida estranha.



Tudo parecia uma conspiração: o ônibus exige que se tenha o valor exato da passagem. A quantia (US$ 1,35) deve ser depositada em uma maquininha, já que não existe cobrador. E se tu não tiveres o dinheiro trocado? Te ferrou, Parte I. A máquina não dá troco e não liga se tu és turista e ninguém te avisou que seria assim.



No metrô, não há uma tabela, placa ou cartaz informando os preços. E de novo tu tens que inserir a grana em uma máquina para comprar o bilhete – esta dá troco, graças a Deus. Os valores variam de acordo com o destino final do passageiro e com o horário. Na hora do rush, andar de metrô sai mais caro. E para descobrir tudo isso sozinha? Te ferrou, Parte II.

Crééééééu

O curso de inglês, cujo valor eu quase precisei vender um rim para pagar, era (sendo generosa) patético. Primeiro: o professor não era americano, e sim coreano. Segundo: as aulas eram do tipo “leia este texto pouco interessante e discuta com o seu colega”. Terceiro (e mais grave): a professora da parte da tarde trabalhava com músicas e palavras-cruzadas. É sério. No primeiro dia ela apareceu com My Way, do Frank Sinatra. Me segurei na cadeira.

Mas nem tudo é choradeira. A troca de experiências entre os colegas foi riquíssima. Passar quatro semanas convivendo com sul-coreanos, colombianos, europeus e árabes fez o curso valer a pena. Cada dia significava uma aula de antropologia.



Não é sempre que a gente olha para o lado e pode trocar uma idéia com um colega do Iêmen sobre a economia global.

No final de uma das aulas, enquanto eu me gabava sobre quão divertido é o nosso Brasil varonil, citando Carnaval, entre outras mobilizações nacionais – os coreanos ouviam as minhas explicações com brilho nos olhos –, um colombiano chamado Alex me trouxe de volta à realidade.

Ele: – Ah, sim, eu tenho um amigo brasileiro que me mostrou um vídeo esses tempos, uma mulher dançando o “créu” – ao final da frase, um sorrisinho desnecessário.
Eu: – É...
Um buraco onde eu pudesse me enfiar, por favor. O Brasil parece bem mais divertido quando a gente olha de fora. Pensei, mas não disse.



E o planeta?

Sempre fui defensora da harmonia entre os diferentes, da boa convivência entre culturas distintas, mas, de repente, me vi odiando os americanos e seus lanches rápidos e suas coca-colas gigantes. Nos bares, à noite, futebol americano passando na tevê (socorro!). Ao meio-dia, andava quilômetros e não encontrava um restaurante “normal”. Só fast food, sanduíches. Quando encontrei um a quilo, não havia pratos, e sim caixinhas de isopor. Os talheres, de plástico. E foi assim durante todo o tempo que eu passei lá: raros restaurantes de comida a quilo, e, por sinal, caríssimos. Isopor no lugar do prato de verdade, do copo de verdade, da caneca, da xícara do café (aliás, que café bem ruim, hein?). Tudo é plástico, tudo é descartável. Haja petróleo.



Controlar o impulso etnocêntrico não é tarefa fácil. “No Brasil isso é melhor.” No início, repeti esta frase internamente trocentas vezes por dia. Até que acostumei. O ônibus já não era estranho, o mapa da cidade entrou na minha cabeça, fui perdendo a implicância. Então pude aproveitar as vantagens de estar na capital do país mais poderoso do mundo. Museus gratuitos, restaurantes étnicos, bares charmosos. Para cada dia, uma programação. E o estômago pode escolher em que país quer se imaginar: Vietnã, Malásia, Tailândia, Japão, China, Coréia, Índia, Ghana, Etiópia, Rússia, França, Itália, El Salvador, Honduras, México. Restaurantes e mais restaurantes. Coisa de primeiro mundo.









Crise? Onde?

Na metade de setembro, eu já perambulava com desenvoltura por Washington, D.C. Foi quando os mercados internacionais surtaram. Sabe que o pessoal lá não andava tão preocupado assim? Pois é, no Brasil se fala mais no assunto, acho. Os programas de tevê priorizavam as eleições. Os debates estavam em alta. Algumas pessoas me disseram que o povo andava comprando menos, deixando de ir a restaurantes, cortando alguns gastos. E só. Quanto ao 11 de Setembro, mesma coisa. Um dia absolutamente normal. O que houve de mais animado foi a inauguração de um memorial no Pentágono. Nada mais.



No, we can’t

Comer/beber no ônibus? Não pode. Comer/beber no metrô? Não pode. Beber cerveja andando na rua? Não pode. Atravessar a rua fora da faixa de segurança? Não pode. Fumar em ambiente fechado? Nem pensar. Aquele papo do Obama, “Yes, We Can”, é furado. Eles não podem nada, vamos combinar. Para entrar nos bares e beber, é preciso ter 21 anos e documento que comprove. Dirigir pode com 16 anos, né?! Vai entender. De qualquer forma, tenho que admitir: as ruas são limpas, as praças, idem. As placas de propaganda dos candidatos não estão por tudo, como no Brasil.



Lá ocorre uma eleição “clean”, pelo menos em Washington, D.C. Plaquinhas discretas em frente a algumas casas. Nos arredores de onde eu morava, predominavam as de Obama. Em Alexandria, cidade vizinha, no Estado de Virgínia, uma colega me contou que só dava McCain.



É o que vale

Pra finalizar, uma homenagem aos "anjos" que me acolheram e socorreram nos States.

Com a melhor roommate: Maria Carolina Corcione


Com Daniela, que me ofereceu o sofá da casa dela nesta noite


Com Hannah, alemã-amiga que se apaixonou por forró


Com Guelly, boliviana que me levou a um restaurante normal


Com Luciana, companheira de museus


Com Amanda, guaibense como eu


*agora, bom mesmo é voltar para casa e poder tomar uma cerveja no boteco mais próximo, a qualquer hora do dia, na companhia de quem a gente gosta, sem precisar pensar que está fazendo algo errado. o Brasil é foda