sábado, agosto 23, 2008

Eu sonhei com Gilberto Gil

Ele deixava um bilhetinho que não era todo azul. E a letra era bem bonita. Dizia “BOA VIAGEM” e tinha dois telefones.

*escrevi isso em 2006 e esqueci de postar

quinta-feira, agosto 07, 2008

Festa de família (para ler em capítulos)


Aniversário de 15 anos em uma cidade do interior: Uma prima vestida para o Oscar, outra com penteado “novela das 8”, a ex-mulher do tio dançando com tiara de diabinha para provocar a atual, metade da festa usando casaco da mesma cor e eu aprendendo a dançar o créu com a prima de 10 anos. É pouco?


Eu preciso escrever sobre o maior evento familiar ocorrido nos últimos tempos, ou melhor, o único evento de peso promovido por membros da minha família até hoje. Uma festa para 400 pessoas no clube mais fino da cidade de Guaíba. Decoração de arrasar, com a temática “borboletas”. Comida ótima, cerveja gelada e vinho para os menos chinelos. O povo todo bem vestido – o meu pai, por exemplo, colocou gravata pela segunda vez na vida. Festa animadérrima, comandada por dois caras que usavam pernas-de-pau e vestiam roupas coloridas. E a aniversariante, linda e loira, que cumpriu o ritual de dançar a valsa e trocou de vestido duas vezes durante a noite. Não é sempre que a província vive um momento desses.

Você aqui!

Ir a Guaíba, pra mim, é como entrar no túnel do tempo. No fim de semana em que o aniversário da minha prima Roberta parou a cidade, eu encontrei meio mundo em uma liquidação de calçados para onde a minha mãe me arrastou durante a manhã (tios, tias e ex-amigas do jardim de infância). À tarde, dei de cara com 60% da ala feminina da família no salão de beleza. Também estavam lá ex-desafetos, como uma moça que roubou um namoradinho que eu tinha aos 13 anos. Fingi que não conhecia. Ela também. Em cinco segundos eu vi a pré-adolescência passar pela minha cabeça em flashes. A manicure me chamou para a realidade (ainda bem).
– Tu vai querer pintar de jabuticaba mesmo? Também tem ameixa, cereja, carmim...
– Isso, jabuticaba.
Lembrei que tenho 24 anos. Ufa!

Chega aí, pode entrar...
A festa foi no estilo “pra não colocar defeito”. Acabei ficando na mesa mais engraçada e eclética: uma prima vestida para o Oscar, com um longo prata invejável; outra de vestido moderno-chique, daqueles soltinhos e com um sinto na altura do estômago (coisa que eu pretendo não usar nunca), com destaque maior para o cabelo, que mostrava um penteado muito “tendência”, parte das madeixas repuxada, parte solta, franja simétrica, meio “novela das 8”, acho. Completavam o quadro um primo que simulava truques de mágica com um guardanapo; a namorada dele, morrendo de vergonha; minha irmã, louca de faceira com o vestido alugado; mais a ex-mulher de um tio que repetia a todo momento “estou sentido energias negativas”, em referência à oponente; meu namorado, atônito com tudo e em dúvida se estava participando das filmagens de algum pastelão; e eu, que aproveitava a gratuidade da bebida.
Minha irmã ficou um pouco preocupada quando percebeu que 40% das mulheres da festa usavam casaco/estola/bolerinho do mesmo tecido e cor que ela estava vestindo (cinza com brilhinhos prateados). Houve breve burburinho. Metade das meninas decidiu que estava muito quente e pendurou o casado na cadeira. Coincidência amenizada.

Tem que ter habilidade
Quando começou o arrasta-pé e foram distribuídos assessórios, a ex-mulher do tio colocou uma tiara de diabinha. Me sobrou um nariz de palhaço piscante. Estava decretado que os limites do bom senso tinham ficado do lado de fora do salão. Inclusive pra mim. Resolvi aprender a dançar o Créu com uma prima de 10 anos que me surpreendeu muito. Achei que ela ainda brincava de boneca. Sabe tudo de funk, a esperta. Eu ando desatualizada. E vi que, de fato, tem que ter habilidade. Essa coisa de descer até o chão, inclusive, não fica bem em todas as idades. Se as primas menores soubessem que eu sou do tempo da “boquinha da garrafa”... O bom é que o meu passado negro, documentado em agendas e fotos, está bem guardado em caixinhas encapadas escondidas no apartamento da capital.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Um dia e meio em São Paulo


A minha missão era conseguir o visto para os Estados Unidos, já que pretendo dar um alô para o Bush em breve. Um dia e meio em São Paulo, ida e volta com passagens promocionais da Gol, entrevista às 8h no Consulado. A minha vida em documentos, tudo separadinho com clipes, estava organizada em uma pastinha, a fim de provar que não tenho ligação com grupos terroristas. Antes das 7h Débora Cruz garantiu seu lugar na fila, ao lado de famílias que planejam ir à Disney e executivos que viajarão a trabalho. A tal entrevista, que ocorreu cerca de duas horas depois, após chá de banco, deve ter durado um minuto. Talvez nem isso. Um homem com o sotaque do Henry Sobel, o rabino das gravatas, me fez perguntas através de um vidro. Tive de responder por meio de um telefone! Coisas básicas, do tipo cidade em que pretende ficar, lugar em que trabalha e se tem parentes nos EUA. Às 9h30min eu saí de lá dando pulinhos, após ter ouvido “Visto concedido” e com tempo de sobra para passear por Sampa. Resolvi coordenar os neurônios e pegar ônibus+metrô. Deu certo e cheguei ao Masp, me achando muito sabida – eu tenho dificuldades com “direita” e “esquerda”, com o metrô de São Paulo então... imagine você. O momento cômico da viagem sempre chega. Pelo menos comigo é assim. E, no caso, foi no museu, enquanto eu observava uma escultura. Estava ali, pensando como alguém consegue reproduzir um joelho humano em mármore, meu Deus, é muita genialidade, que coisa, olha a perfeição. Um homem pára ao meu lado. Observa a obra. Compartilha:
- Lindo, né?! Ele demorou dez anos para fazer isso.
- Nossa, incrível.
- Tu é artista?
- Não, não, sou jornalista.
- Ah, que legal. Então eu vou aproveitar para te entregar um release sobre o meu trabalho...
- Sim, claro, obrigada.
Peguei o papel, dei um sorrisinho – devo ter ficado vermelha – e fugi. Segui para outro corredor, ri sozinha, dei uma olhada rápida no material: “Carlos Estigarribia: ator e violinista performático”. Dizia ainda “escritor e dramaturgo”. O resto do texto eu só fui ler em Porto Alegre, um dia depois, no aconchego do meu apartamento e em meio a risadas.
Agora, as conclusões possíveis:
1) Preciso aproveitar momentos como este para aprender a ser cara-dura;
2) Dependendo do ponto de vista, o mundo é mesmo pura diversão.

Vamos celebrar a estupidez humana

Eu precisei parar de trabalhar, respirar fundo e contar até três depois de receber a seguinte mensagem no celular:
“Débora, sou namorada do L.C., que tu ficou um tempo atrás... Faz tempo, pelo que eu saiba, mas queria que tu me respondesse quando foi a última vez que vcs ficaram/transaram. Desculpa te incomodar. Marcella.”
Bem, nem imagino quem seja essa moça. Mas fiquei realmente preocupada com a sede investigativa dela. Não vejo o L.C. há séculos, nunca cogitei ficar com ele. Fomos colegas na faculdade por um semestre. Lembro que ele era meio “Tony Ramos”, com os pêlos saindo pra fora da camisa, essas coisas, e jornalisticamente atrapalhado. Não dá nem pra dizer que éramos amigos. Um conhecido, creio. Pensei em mandar uma mensagem espirituosa pra Marcella, porém fiquei com medo de que ela não entendesse e ainda por cima levasse a sério. O que é bem provável.
Como diriam na minha terra, tem gente que “se presta”.