quinta-feira, novembro 20, 2008

Será que eu sonhei?

O que a pessoa deve pensar quando está trabalhando, às 20h54min de uma quinta-feira, escrevendo uma nota sobre investimentos no combate à dengue no Brasil e no RS, e um desconhecido insiste em ligar, para o telefone comercial, ou seja, da redação, sendo que o único ruído possível de se escutar do outro lado da linha é uma espécie de karaokê: "Uma deusa, uma louca, uma feiticeira, meu Deus ela é demais"?

**seria uma nova estratégia das assessorias de imprensa para tentar emplacar uma pauta?

**leitor descornado?

**minha irmã fazendo pegadinha?

Não sei. Juro.

Vida é mel, dependendo da década


Não são poucos os momentos em que busco na memória o gosto do algodão-doce, tomada por saudade. O mesmo acontece com maçã-do-amor. Só que essas guloseimas-símbolo da infância e dos parquinhos geralmente não cumprem o que prometem quando se tenta ingeri-las na fase adulta. O estômago não suporta tanto açúcar misturado a anilina. As mãos não encontram jeito de permanecer limpas e tudo parece bem mais nojento do que inocente. Tem coisas que a gente não deveria fazer depois que cresce justamente para preservar o encantamento das lembranças.

quarta-feira, novembro 19, 2008

O cinza-chumbo interior


Tem dias em que a gente só deseja poder ficar jogado no sofá, travesseiro fofinho e edredon, trocar o canal da TV 329 vezes, dormir e acordar e dormir de novo. Trocar de canal mais uma vez. E pensar que o mundo gira sem a nossa presença ou participação. Que bom, já que o desejo maior é ficar ali, escondidinho, abafado, sozinho, quieto. Alienado.

Tem dias em que a gente só deseja poder desligar o cérebro por algumas horas, suspender preocupações com o futuro, que é incerto, todos sabem, mas quase ninguém encara isso de alma leve. A minha pesa, principalmente nos dias sem sol, com muita nuvem e breves chuviscos, pingos sem vontade. Nestes dias, parece que nem a chuva vinga. E é então que a gente só deseja se jogar no sofá, desligar o cérebro, dormir e acordar e dormir de novo. Pra de repente sonhar.

terça-feira, novembro 11, 2008

Gentilezas


Se antes achava quase uma grosseria quando você abria a porta do carro, agora enxergo nisso gentileza. E estou precisando de gentilezas. E de palavras doces ao pé-do-ouvido. E de promessas que dificilmente serão cumpridas. Declarações clichês feitas perante o pôr-do-sol, no fim da festa, nós dois caminhando na chuva, sentados no meio-fio como se o mundo não girasse, a tua mão na minha cintura. Mãos dadas, entrelaçadas, grudadas, suadas. Cafuné, qualquer bobagem e a gente ali. Um cachorro-quente e o meu copo vazio. Vem a noite, que é curta, a gente sabe. E bombons no dia seguinte, ou pão de queijo, iogurte, aquela torrada. Bilhetinhos com dizeres bregas, poemas batidos, planos de viagens. Leste Europeu, Cuba, Curitiba ou Pinhal. Juras bobas. Nós dois. Um só. E gentilezas.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Vou defender a Luana Piovani



Sim, porque toda mulher passa pela fase eu-tava-sozinha-e-ficar-com-ele-até-que-não-era-tão-mal-então-resolvi-fingir-que-tinhamos-tudo-a-ver-e-podíamos-ser-felizes-só-que-no-final-ele-se-mostrou-mais-ogro-do-que-eu-podia-imaginar. Não condeno. Até porque ela, embora linda de morrer, tem mais de 30 anos, o instinto materno está batendo à porta, é azarada nos relacionamentos e quer ser feliz. Tentou, ao menos. E o Dado, mesmo sendo ogro na décima potência, convenhamos, é gato.
Só não precisava ter escrito algo como “mais uma vez, Deus me protegeu, ia casar com alguém que não conhecia” no que chama de “seu blog”. Menos, né, Lú.

quarta-feira, novembro 05, 2008

O Brasil nunca foi ao Brazil

Eu, em um ônibus pinga-pinga no trajeto Florianópolis-Porto Alegre, tentanto explicar a um londrino mochileiro que a vida na terra do samba não é festa o tempo todo:

- Vocês, brasileiros, não têm o hábito de fazer mochilão, né?
- Bem... é que, pra gente, isso é um tanto quanto caro.
- Pra gente também. Eu juntei dinheiro durante 11 meses pra fazer esta viagem!
- Só que, no Brasil, se você consegue juntar alguns trocados durante 11 meses (considerando um salário de jornalista com contas mensais a pagar), vai no máximo até Buenos Aires. É um pouco diferente, sabe...
- É mesmo?
- Sim.
- Mas o Brasil não é terceiro mundo. Ou é?
- [desisti]