quinta-feira, setembro 18, 2008

Vai um abraço aí?


Ainda bem que existem pessoas interessadas em promover momentos de afeto entre desconhecidos. Os viajantes carentes de abraços agradecem.

p.s. Que tristeza se no Brasil nós precisássemos de campanha pra sair abraçando os outros por aí. (a gente é feliz e não sabe)

A vizinha do Bush


A espanhola Concepcion Picciotto faz vigília em frente à Casa Branca, em Washington DC, desde 1981. Ela vive em uma tenda de náilon montada no Lafayette Park, a poucos passos da Pennsylvania Ave, 1600. Ali exibe cartazes a favor da paz mundial e contra armas nucleares. Dá informações a turistas sobre a sua luta, conversa calmamente, entrega panfletos a quem se mostra interessado. Desanimador é constatar que a maioria dos turistas só tem olhos para a imponente White House.

domingo, setembro 14, 2008

Português!


Cheguei à conclusão de que o Brasil não existe. Eu tenho colegas do Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Libéria e Colômbia. Tem também um paulista que fala comigo em português quando a gente está prestes a surtar. O professor é coreano, pode?! Em poucos dias de aula tive que ouvir duas vezes: Ah, vocês falam espanhol... Não! We speak portuguese! Ninguém perguntou sobre samba, Carnaval, futebol ou Gisele Bündchen. Nada! Hoje decidi sair com a camiseta do Grêmio pra ver se achava alguns brasileiros. Resultado: percebi que o Grêmio também não existe. Encontrei apenas um brasileiro. E olha que fui a um evento grande, com pessoas de várias partes do mundo, o Adams Morgan Festival. É foda.

Alma latina


Sinceramente? Acho que odeio os americanos e seus lanches rápidos e suas coca-colas. Desde que cheguei, só levei patada. Tá, alguns foram legais, mas os gente-fina são raros. A minha host, por exemplo, no meu terceiro dia na casa, disse que eu deveria comprar um celular, porque a United e outras pessoas estavam ligando para o telefone dela. “Eu tive que atender quatro ligações pra ti hoje”, reclamou. Simplesmente não acreditei. Além disso, ela me passou duas folhas de ofício com “normas da casa”. Só não cortei os pulsos porque tenho uma roommate, a Carolina, que tem me ajudado desde o primeiro dia. Ela é colombiana e está aqui para trabalhar de forma voluntária para a União Européia. Dia desses, sufocada com as regras, com a grosseria dos americanos, com a comida horrorosa que eles comem, e ainda com dificuldades de me adaptar, tive que desabafar, enquanto conversávamos: “Carolina, I am too brazilian, I cry a lot”. Pensei que ela ia me achar uma louca, uma criança. E então ela disse: “I know what is it, I’m too colombian and I cry everyday”. A partir do momento em que abrimos o coração, paramos de chorar. A Carolina talvez não faça idéia, mas ela me salvou. Me levou pra sair com amigos colombianos, me fez companhia em um festival de capoeira (sim, tem até isso por aqui), me ensinou a lavar roupa na máquina maluca da casa. Além disso, fala mal dos americanos o tempo todo, como eu, e ri quando eu falo português (ela acha engraçado quando eu me engano e digo Casa Branca em vez de White House). É uma fofa.

Zé Dirceu: a não-foto

Eu peguei o avião em Porto Alegre às 13h10min de sábado, com destino a Guarulhos. Lá, só fui embarcar para os EUA às 22h10min. Ao menos era um vôo direto para Washington. Cheguei no Dulles International Airport por volta das 7h de domingo. Logicamente, você consegue imaginar como estava a minha aparência a essa altura: uma monstra. Na chegada, estava nervosa porque não sabia o que teria de fazer/dizer na alfândega. E pensava nisso enquanto estava no ônibus que leva os passageiros do avião até o terminal. Eis que olho para a minha direita e quem eu vejo? Zé Dirceu! Com a cara tão ou mais amassada que a minha. Pensei: puxo assunto? Tiro uma foto? Ele pareceu ler os meus pensamentos e fez cara de pit bull. Fiquei na minha. Como a TPM tem sempre a não-entrevista do mês e eu sou imitona, resolvi colocar aqui a não-foto.
Zé Dirceu: eu nem queria mesmo.

Saga

Acho que aprendi muito inglês ligando para o 0800 da United Airlines. Eu entendia pouquíssima coisa do que eles diziam. Foi o caos. Mas vi que call centers são a mesma merda em qualquer parte do mundo. Eles não resolvem o problema, apenas enrolam. Depois de muitas ligações – mobilizei a família no Brasil para infernizar a United também –, a mala apareceu. Detalhe: a bendita foi entregue “aqui em casa” apenas no dia 11 de setembro, sendo que eu cheguei nos States no dia 7. Precisei ficar em casa, esperando que alguém da empresa de delivery aparecesse, então perdi os eventos relativos ao 11/09. Que eu saiba, por aqui houve apenas a inauguração de um memorial no Pentágono. Só. Pretendo ir até lá nos próximos dias.

Amigos


A parte boa da minha chegada foi ser recepcionada por esquilos. Eles são muitos por aqui, principalmente nas redondezas de onde estou morando. Eu olho pra eles e me mato de rir. Parecem macacos, sobem em árvores, galhos, uma loucura. Minha irmã já teria tentado domesticar um se estivesse aqui...

Passado o choque, consigo escrever

Bem, após sete dias nos Estados Unidos estou conseguindo escrever as primeiras linhas. A chegada foi traumática, principalmente porque eu vim, mas a minha mala não. E pior do que cair de pára-quedas em uma cidade completamente estranha é chegar e não ter roupa para o dia seguinte, nem desodorante/xampu/condicionador/sabonete, nem pijama para uma noite decente de sono, nem um chinelinho bagaceiro para pôr quando se está em casa à noite. Depois de três dias com a mesma roupa, me sentindo uma mendiga, sem vontade nenhuma de tirar fotos, fui às compras. A minha “host” me levou ao lugar mais barato possível, um supermercado onde se encontra de tudo, inclusive roupas, tipo o BIG. Comprei uns trapos e as coisas começaram a dar certo.

sexta-feira, setembro 05, 2008

A classe média vai ao paraíso


Após meses de apertada economia que incluiu corte de gastos até com cerveja, chegou a hora. Amanhã embarco para Washington DC, a capital dos Estados Unidos, para estudar inglês e passear tudo que não passeei em 24 anos. Fico com pena de zerar o cofrinho, entretanto, sei que não será um mês “só” de viagem, mas também do mais profundo encontro comigo mesma que já vivi.

Nos meses que antecederam a minha partida, recuperei livros de inglês que usava em cursinhos de idiomas, cadernos. Estavam lá as minhas anotações, rabiscos, temas feitos a lápis. Me deu saudade e raiva de tudo. As muitas aulas de inglês que eu levei a sério não tiveram como desfecho uma temporada no exterior para cursar high school, como eu tanto sonhava. A realidade da classe média em famílias com três filhos não permite tamanho gasto. Simplesmente não sobra dinheiro pra isso – agora, assalariada que sou, eu entendo.

Bem, mas cultivar este recalque tem seu lado positivo (eu sou defensora ferrenha do rancor). A presença de tal ausência fez com que eu planejasse as minhas primeiras férias remuneradas de uma forma, no mínimo, inteligente (dia de auto-estima no topo). Solicitei financiamento materno, zerei a poupança do BB, passei grande parte do ano com a geladeira mais vazia do que o normal (poder passar fome por opção, ô privilégio), estudei o mapa dos EUA para descobrir qual seria a cidade ideal, peregrinei por agências de viagens, batalhei visto, retomei as aulas de inglês. Os bons ventos ajudaram e a empreitada deu certo.

Agora, durante a TPV (tensão pré-viagem), ando arrancando os cabelos só de pensar que vou me perder loucamente pela cidade e arredores, que em boa parte do tempo terei dificuldades graves para entender o que as pessoas falam, que vou sentir na pele toda a minha falta de vocabulário. Talvez chore, talvez reze. E será para exorcizar os momentos ruins e conduzir os bons à posteridade que contarei neste blog tão malcuidado as minhas trapalhadas e descobertas. As aventuras começam a partir de amanhã. Vem comigo!