sexta-feira, abril 10, 2009

Uma vida sem ponto final

É o tipo da coisa que a gente não percebe aos 18 anos, mas aos 24 já consegue enxergar. Eu só "realizei" essa dificuldade quando, no primeiro ano da faculdade de jornalismo na Pucrs, segundo semestre, mas precisamente, o professor Jacques Wainberg me disse umas verdades ao final de uma prova. A disciplina era Introdução ao Jornalismo II. E ele jogou na minha cara algo que, no fundo, eu já sabia.

***

- Débora... tu escreveu tudo a lápis e agora está passando a limpo?
- Sim, professor. Mas não tem problema, é rápido.
- Mas tu sempre faz isso?
- Sim.
- Mas não pode. Agora tu estas na faculdade. Tem que escrever com caneta.
- Eu sei. Mas não consigo. Quando eu passo a caneta eu sempre mudo alguma palavra, descubro um erro que não tinha visto. Fica melhor.
- Isso é porque tu não quer fazer as coisas sem a chance de voltar atrás. Tem medo do definitivo. Tu precisa resolver isso.
- Pode ser.
- Tenta usar só caneta nas próximas provas.
- Sim.

***

As palavras do Jacques me fizeram entender um pouco a fobia que tenho de decisões que não poderão ser revertidas. Na vida, eu queria ter sempre a chance de passar a limpo, conferir, reler, mudar uma coisa que outra, ainda não era bem isso, falta um detalhe. Reescrever. Medo do definitivo mesmo, de não ter outra chance. Só que o tempo não espera, as pessoas não esperam. E aqui me encontro, já adulta, fugindo do ponto final.

3 comentários:

tati disse...

Não me lembrava disso... mas agora me veio na mente vc saindo sempre tarde das provas, reescrevendo até o último segundo. Eu, ansiosa, saía escrevendo tudo de primeira, riscava às vezes, mas ia ´psicografando´....
Teus textos estão cada vez melhores!

Upiara B. disse...

O bom é que a gente não escreve mais nada sem o backspace ao alcance dos dedos. Ficou mais fácil esconder o medo do definivo.

Olá. Vi teu link no blog da Júlia. Cliquei, li, gostei muito.
=)

Representação pública disse...

Com ponto final. Sem rascunho.