segunda-feira, março 31, 2008

Casinha do cachorro

Foi na década de 1980. Não lembro ao certo se ela tinha 3, 4 ou 5 anos quando o fato ocorreu. O que sei é que inventou uma maneira inconseqüente e criativa de fugir dos olhos nem tão atentos da empregada responsável por cuidar das crianças e da limpeza da casa. Numa tarde qualquer, se escondeu dentro da casinha do cachorro, que ficava no pátio de chão batido. A rua em frente – cenário de suas brincadeiras com amiguinhas e amiguinhos – era asfaltada, mas calma. Garantia que as crianças por ali ficassem livremente até o anoitecer, sem que os pais enlouquecessem, sem que grandes preocupações os perturbassem. Bem, voltando à casinha: deve ter sido construída pelo irmão mais velho ou mesmo pelo pai. Era azul e de madeira, acho. E grande, já que abrigava um vira-lata de média estatura. A menina lá se abancou, bem faceira, e levou algumas bonecas. Passou a tarde brincando. Enquanto isso, a empregada andava histérica à sua procura pela vizinhança, batendo de porta em porta. Deve ter chorado, tamanho o desespero, evocado todos os santos em orações, feito promessas, imaginado que estaria no olho da rua em poucas horas. A criança sumiu por uma tarde inteira. Deu as caras depois de brincar até cansar, no início da noite, hora em que a mãe costumava chegar do trabalho. Tinhosa, alegremente tinhosa.

Hoje, Luciana, minha irmã, a filha do meio (que sempre achou ruim ser a-do-meio), protagonista desta história real, completa 25 anos. Deu vontade de tornar público um pequeno (mas significativo!) fragmento da biografia dela. Foi a minha parceira de infância. Agora, é companheira de apartamento. Desde sempre, a pessoa com quem travo brigas homéricas seguidas de risos e demonstrações de afeto.