quarta-feira, setembro 06, 2006

Ex-blog

Alguém sabe explicar como o Cesar Maia tem um "Ex-blog"?

domingo, setembro 03, 2006

Infância

Primeira série, sete anos de idade, paredes coloridas de uma sala de aula antiga, o piso um tanto quanto velho e sujo. A madeira rangia quando a gente pisava. Classes verdes e cadeiras de madeira escura. Cerca de vinte alunos, talvez um pouco mais. Tocos de gente. A professora – linda, loira e olhos azuis – em nada ficava devendo à “Professora Helena”, do Carrossel. Um sonho de profe! Tudo lindo até o dia em que ela explicou como seria a avaliação dos aluninhos. Em vez de prova, faríamos uma atividade lúdica, mas valendo nota. A avaliação consistia em imitar uma propaganda de televisão. Só. Era fazer isso e passar de ano. E férias. Mais fácil impossível. Eu lembro dos colegas empunhando pastas de dente da “Colgate” e pronunciado constrangidos algo como: “Compre Colgate e seu sorriso ficará...”. Quando me dei conta que teria de atravessar a fila interminável de classes com cadeiras com projetos de pessoas à minha frente, segurar um produto e imitar alguma propaganda ridícula de TV diante do opressor quadro negro e dos mais opressores ainda olhares alheios, tive a exata certeza de que eu não faria o exercício. “Débora, tu tem que fazer, vai ficar sem nota.” Bem que a professora Lúcia Helena tentou, falou com jeitinho no início, depois foi incisiva: “Vais rodar”. Resolveu conversar com a minha mãe, que me chamou para um papo sério. “Mãe, eu rodo, mas não faço.” Eu lembro menos do pânico da vergonha iminente, e mais da absoluta convicção de que não enfrentaria a turma inteira. Eu queria ficar resguardada na minha timidez e fui chamada a me abrir ao mundo. A resposta foi não, definitivamente. Minha trajetória escolar recém começara. Aos sete anos, estava preparada para rodar, ficar um ano atrasada na escola, ser a desonra da família. Bom, para a psicóloga não ia adiantar me mandar, pois eu já freqüentava consultório a essa altura. Foram minutos, horas, dias de tortura. Colgate não, de jeito nenhum. Não faço e pronto. Repito de ano. Choro. Sapateio. É claro que isso deve ter gerado mais comentários na escola do que se eu tivesse feito a tarefa. Não teve jeito. Minha mãe ficou responsável por explicar à professora a dimensão da minha timidez sem fim. Acho que ela entendeu, pois passei de ano, rumo à segunda série. Eu e a minha fobia de olhares alheios.

* A professora Lúcia Helena, hoje com 51 anos, está no Orkut, linda, loira e com 252 amigos!