quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Ou tem vocação...

A disposição para um estado constante de crise existencial deve nascer com a pessoa. Sabe aquele tipo de gente que se irrita com muita felicidade? Que vê na sensação de completude uma afronta às boas possibilidades de produção intelectual? Que gasta um cd ou dvd ouvindo 154 vezes a mesma música, remoendo a mesma melancolia e reinventando matizes para a sua insatisfação com sabe se lá o quê? Esse estado alterado de consciência pouco necessita da ajuda de substâncias estimulantes, mas elas podem contribuir, é claro. Basta que a criatura já tenha vindo ao mundo com vocação para o descontentamento. E que ainda por cima goste disso.

2 comentários:

M.R. disse...

HA! Adorei esse post! Principalmente o ¨que vê na sensação de completude uma afronta às boas possibilidades de produção intelectual¨. Concordo plenamente. Aliás, é como eu e meus amigos costumamos dizer ¨a vida é uma merda mesmo¨. E nos momentos em que a gente percebe isso com clareza é que se extrai as melhores conclusões sobre ela. A sensação de completude, por vezes, cega! hehe
beijokas

Dopre Kleeg disse...

É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".
Charles Baudelaire