terça-feira, janeiro 16, 2007

A banda do Zé Pretinho

De uns tempos pra cá eu percebi que meu pai deve ter sido uma das melhores companhias de bar que o eixo Guaíba-Porto Alegre já teve. Um dos motivos é que ele toma até cerveja quente. Desde que o copo esteja cheio, tá tudo certo. Não é alcoólatra. Lógico que não. Se fosse, eu não estaria achando tudo lindo. Mas a questão é que ele sabe que lugar de beber é em mesa de bar. Preferencialmente, com batuque. Batidas articuladas na mesa. Mão e madeira produzindo som. Samba. Samba antigo.
Eu demorei para perceber isso, pois há tempos ele abandonou a vida boêmia. Aposentou as madrugadas etilicamente musicais precocemente, antes dos 30 anos, por conta dos muitos pedidos da minha mãe. Reprimiu a vontade. Sufocou até que ela perdesse o ar. Acontece que um dia as filhas cresceram e se mostraram simpáticas aos botecos esfumaçados da Capital, fato que ele não consegue reprovar. Assim, se o telefone toca e eu estou a beber com os amigos, admito:
– Tá em casa?
– Pai, tô tomando uma cervejinha...
– Hahahahaha...
Ele ri. Sente e entende. Diferente da minha mãe, que quase desliga na cara. O pai sabe o valor que tem uma madrugada com os amigos. Sabe que o tempo não volta. Dá risada como um cúmplice. Acha que é “coisa de jornalista mesmo”. Vê graça.
Além de ser chegado em algumas bebidas, papi tem o dom de contar histórias muito bem, característica que pode fazer com que um dia ainda vire escritor. Enquanto isso, ele se realiza com uma filha jornalista.
Mas a coordenação com que batuca as músicas do Jorge Ben não deixa dúvidas sobre suas experiências noturnas e musicas.
– A banda do Zé Pretinho chego-o-u, pá-ra-a-a animar a festa...
“Hum... ele sabe até a letra...” Queria poder ver esse jovem senhor batucando e contando causos em mesa de bar. É por isso que qualquer hora vou arrastá-lo para o Bar do Marinho, reduto porto-alegrense da boa música e da cerveja barata. Sem a mãe saber, claro.
– Pai, já pro boteco!

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