terça-feira, agosto 02, 2005

O tempo. Implacável, mas esclarecedor.

Pirei quando descobri esse poema do Padre Antônio Vieira. Escrito em 1643, imagine só!
Na verdade, ele fazia parte de um polígrafo de algum dos tantos semestres de Língua Portuguesa que fiz na Famecos e que tiveram pouca utilidade. O professor era o Bruno Jorge Bergamin, da Faculdade de Letras. Tinha uma idade já um pouco avançada, coitado. Até hoje não conheço outra pessoa que tivesse paciência e gostasse das aulas dele além de mim. Quando muito, alguém tinha consideração pelas tentativas dele de dar aula, um tanto quanto lentas e repetitivas.

Quando trabalhamos com esse poema em sala de aula (foi algo breve, nada muito aprofundado) me apaixonei pelo texto de imediato. Li e reli milhares de vezes. Me identifiquei, é lógico. Há pouco havia passado pela primeira experiência em que comprovei, de fato, a implacabilidade do tempo. E não foi nada feliz constatar isso. Sinceramente, ninguém tinha me avisado que a vida seria assim. Que nada dura para sempre, que o tempo “tira o gosto das coisas”, que depois de certo tempo de relacionamento a dois a gente nem sabe mais quem é e “foge”. E enfim consegue respirar.

Copiei o poema à mão e entreguei para a Tatiana Lemos, que, impressionada com a precisão das conclusões do tio Antônio, pendurou o papel em seu mural. Ela também tinha passado por poucas e boas que lhe fizeram odiar o poder de destruição do tempo. Também se identificou.

Pra mim o texto virou uma referência. Explica muito em poucas linhas. Dá luz àquelas situações nebulosas que se repetem inúmeras vezes ao longo da vida e que nunca perdem o ineditismo. Situações nas quais a falta de explicação sempre volta a angustiar como na primeira vez.

Por isso, sempre que meu “espírito” pede, volto a ler esse texto. Me conforta. Me convence de que não sou só eu. Dá a sensação de que a vida é cíclica mesmo e não vale a pena não se deixar levar por ela.
É... sabia muito esse Padre Antônio Vieira...

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